Nada se cria, tudo se copia. Essa frase bem conhecida pode ser usada também para ajudar a definir o conceito de arquitetura biomimética.
Cada vez mais em evidência pelo mundo afora, esse modo de pensar a arquitetura se baseia em três pilares fundamentais: sustentabilidade, resistência e eficiência.
O que é a arquitetura biomimética?
A arquitetura biomimética é um tipo de arquitetura voltada a observação dos padrões da natureza de modo que eles possam ser replicados nos projetos construtivos, garantido maior eficiência, resistência e sustentabilidade.
Apesar do termo estar em evidência no momento, a arquitetura biomimética não é uma novidade.
A palavra biomimética vem do grego bio, que significa vida, e mimésis, que significa imitação.
Por isso ela pode ser traduzida ou interpretada como “imitação do que é vivo”. Nesse sentido, não só a arquitetura, mas diversas outras áreas da vida, incluindo a medicina, já se inspiraram no que é vivo e provêm da natureza para tratar os mais diversos problemas da humanidade.
O grande gênio Leonardo da Vinci experimentou muito desse conceito em suas invenções.
Da Vinci era obcecado pela ideia de voar e se inspirou nos pássaros para criar uma das suas maiores invenções, o aeroplano, que hoje em dia chamamos de asa delta e que no futuro viria a se tornar o ponto de partida para a invenção do avião.
O ser humano sempre aprendeu com a observação da natureza e dos demais seres que habitam o seu redor. Abelhas e formigas, por exemplo, são um campo vasto de estudo para novas ideias, especialmente no campo do design e da engenharia.
E não é para menos. A natureza, como a conhecemos hoje, levou centenas de milhares de anos para se moldar diante das necessidades de sobrevivência de cada espécie.
Em cada tentativa e erro ao longo dos milênios, as criaturas vivas do planeta descobriram formas impressionantes de habitar o mundo. Então, porque não encurtar o caminho e se inspirar naquilo que comprovadamente já deu certo?
A arquitetura biomimética ainda pode ser dividida em três grupos principais: a que imita as funções da natureza, a que imita as formas da natureza e a que imita partes da natureza.
No primeiro caso, o objetivo é buscar soluções a nível de engenharia e eficiência construtiva. No segundo caso, o design é o principal objetivo, apesar de também estar ligado a funcionalidade da obra.
Por fim, o terceiro grupo busca na natureza a solução para componentes, peças e outras partes autônomas da construção.
Vantagens da arquitetura biomimética
As vantagens da arquitetura biomimética são muitas e dependem principalmente do objetivo final do projeto. Mas, basicamente, podemos dizer que ela se torna vantajosa pelos pontos a seguir, confira:
Sustentabilidade
Na natureza nada se perde, tudo faz parte de um ciclo perfeito que se renova, se recria e se reinventa. E com a arquitetura biomimética isso não seria diferente.
Por isso, a sustentabilidade acaba intimamente ligada a esse conceito de arquitetura, já que todo o projeto é baseado no uso inteligente e consciente de materiais, além da redução de gastos e recursos naturais para a manutenção da casa ou prédio.
Conforto térmico e acústico
A arquitetura biomimética prevê o conforto térmico e acústico das edificações de modo natural, sem a necessidade de uso de equipamentos e aparelhos artificiais, como ar condicionado e aquecedores, que consomem muita energia elétrica e poluem o meio ambiente ao serem descartados.
Com esse tipo de arquitetura, as edificações são projetadas, com base na natureza, para atingir o máximo de eficiência térmica e acústica, no verão ou no inverno.
Resistência e durabilidade
A natureza é um grande exemplo de resiliência e força ao mesmo tempo. Quer exemplo melhor do que o bambu? Essa planta típica chinesa consegue se envergar completamente sem quebrar mesmo exposta ao maior vendaval.
Essas características influenciam e inspiram a arquitetura biomimética na busca por edificações mais resistentes e duráveis, capazes, inclusive, de suportar tempestades, correntes marítimas e terremotos.
Aproveitamento solar
As plantas retiram da luz solar o “alimento” que elas precisam para viver. Porque não levar essa sabedoria da natureza para dentro das casas e prédios? O melhor jeito de fazer isso é apostando no uso da energia solar de modo que as edificações sejam completamente autossustentáveis.
A luz do sol entra, ilumina e aquece os ambientes, dispensando o uso de lâmpadas, aquecedores e, quando usada em forma de placas fotovoltaicas, dispensa até mesmo o uso de energia elétrica tradicional para o abastecimento de equipamentos eletrônicos.
Custo benefício a longo prazo
Em um primeiro momento pode parecer que a arquitetura biomimética é cara e inacessível.
No entanto, as vantagens a longo prazo são tão grandes que ela facilmente se torna um investimento e não um custo.
Com a aplicação das técnicas certas, a edificação economiza energia elétrica, gás e água, além de reduzir significativamente os custos com manutenção.
Isso sem falar que uma edificação construída dentro do conceito da arquitetura biomimética acaba se valorizando a longo prazo, já que os imóveis sustentáveis vem ganhando cada vez mais atenção, além de serem a única alternativa para o futuro próximo.
Exemplos de biomimética na arquitetura
Veja agora como a arquitetura biomimética pode ser aplicada na prática e encante-se com essa parceria incrível entre homem e natureza:
Estádio Nacional de Pequim – China
Um dos maiores exemplos de arquitetura biomimética vem direto lá da China. O Estádio Nacional de Pequim é uma obra icônica dessa vertente sustentável e criativa de arquitetura.
Só de olhar já é possível perceber de onde veio a inspiração. O estádio foi livremente inspirado em um ninho de pássaros.
Construído para os jogos olímpicos de 2008, o estádio foi projetado pelo escritório de arquitetura Herzog & Meuron.
A estrutura diferenciada do estádio realmente se assemelha aos gravetos usados pelos pássaros para criação do ninho. Mas, por quê?
Esse amaranhado de gravetos é necessário para que o ninho tenha estabilidade sobre as árvores. No caso do estádio, replicar essa estrutura foi importante para garantir a estabilidade diante de possíveis terremotos, algo comum no país.
Outro bom motivo para que os arquitetos se inspirassem no ninho de pássaros é que essa estrutura vazada permite a entrada de luz e ventilação, reduzindo o gasto energético dentro do estádio.
Cubo de Água Centro Aquático Nacional de Pequim – China
Ainda na China, só que desta vez no Cubo de Água Centro Aquático Nacional de Pequim.
Por lá, a inspiração do escritório PTW Arquitectos foi reproduzir o formato das bolhas d’água.
Para isso, os arquitetos revestiram a construção com bolas de plástico gigantes capazes de simular esse efeito e criar um design inovador e criativo.
Edifício Corporativo Johnson Wax – Estados Unidos
Outro grande exemplo de arquitetura biomimética é o Edifício Corporativo Johnson Wax, localizado na cidade de Racine, nos Estados Unidos.
Construído por um dos maiores representantes da arquitetura orgânica do mundo, o arquiteto Frank Lloyd Wright, o edifício foi inspirado na planta vitória régia.
Baseado no formato dessa planta, o arquiteto promoveu maior luminosidade para o prédio, além de um pé direito duplo, capaz de fornecer maior conforto térmico e acústico.
Museu do Amanhã – Brasil
O Brasil também tem exemplos de arquitetura biomimética e a maior delas é o Museu do Amanhã, localizado na cidade do Rio de Janeiro.
Projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calastrava, o Museu do Amanhã foi inspirado nas bromélias do Jardim Botânico.
Em busca do sol, a estrutura que avança sobre o mar se movimenta ao longo do dia para garantir o melhor aproveitamento da luz solar por meio das placas fotovoltaicas instaladas no edifício.
Eastgate Center – Zimbabué
O próximo exemplo de arquitetura biomimética vem do continente africano. Projetado pelo arquiteto Mick Pierce, o Eastgate Center, no Zimbabué, foi maravilhosamente inspirado na vida que acontece dentro dos cupinzeiros.
Isso porque esses insetos controlam a temperatura interna do cupinzeiro abrindo e fechando as entradas do ar de modo persistente ao longo de todo o dia.
O Eastgate Center, entretanto, utiliza ventiladores de ar para fazer o trabalho que seria dos cupins. Por conta disso, o edifício não precisa de um único aparelho de ar condicionado para manter a temperatura agradável.
Metropol Parasol – Espanha
O Metropol Parasol, na cidade de Sevilha, Espanha, é outro típico exemplo de arquitetura biomimética.
Construído pelo escritório alemão J. Mayerh. & Partner Architekten, o Metropol Parasol simula o formato e a estrutura de um cogumelo, feito em madeira e poliuterano.
A razão por trás desse design inusitado é oferecer conforto térmico dentro do museu, sem a necessidade de aparelhos refrigeradores, uma vez que os próprios materiais conseguem suportar as altas temperaturas da região.
Museu de Arte de Milwaukee – Estados Unidos
Projetado pelo mesmo arquiteto que construí o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o arquiteto Santiago Calatrava, se inspirou no movimento das asas das mariposas para criar o Museu de Arte de Milwaukee.
As asas que se abrem sobre o edifício promovem o resfriamento e controle da luminosidade, mantendo a parte interna do museu sempre agradável termicamente falando.
Já que você acompanhou estas grandes construções, que tal descobrir quais são os maiores estádios do mundo?