Uma arquitetura para todos. Esse é o principal objetivo da arquitetura inclusiva, um novo jeito de pensar os espaços a partir das necessidades do homem e da vida moderna.
Mas como a arquitetura inclusiva pode ser aplicada na prática? Essa e outras perguntas a gente responde nesse post para você. Continue acompanhando.
O que é arquitetura inclusiva?
O principal objetivo da arquitetura é servir ao homem e as suas necessidades. Foi por isso e para isso que ela foi criada há mais de 10 mil anos a.C, quando os primeiros abrigos de proteção construídos pelo homem começaram a surgir.
No entanto, esse conceito fundamental da arquitetura parece ter ser perdido ao longo dos séculos com construções definidas para atender aparentemente apenas homens jovens e saudáveis.
Felizmente, com o surgimento do modernismo e com a nova configuração da sociedade, a arquitetura inclusiva começou a ganhar a forma.
A preocupação em promover espaços que pudessem ser ocupados por todos, desde crianças, gestantes e idosos até pessoas com os mais variados tipos de limitação física, passa a ser prioridade para arquitetos do mundo inteiro.
Na arquitetura inclusiva todos tem o direito de habitar e desfrutar de um ambiente da mesma maneira, sem distinção.
Nesse ponto é importante ressaltar que a arquitetura inclusiva não visa apenas a funcionalidade dos espaços, mas o conforto e, é claro, a segurança.
Com espaços assim, é possível criar um mundo mais acolhedor e receptivo a quem quer que seja.
Importância da arquitetura inclusiva
A arquitetura inclusiva no Brasil tem ganhando tanto destaque nos projetos atuais que conta até mesmo com uma norma técnica (NBR 9050/2004) para garantir a padronização dos espaços e a garantia de acessibilidade para todos.
Só para você ter uma ideia, o Brasil possui mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência ou limitação física.
Isso sem falar nos idosos que já somam mais de 24 milhões em todo o país. A tendência é que esse número cresça significativamente daqui para frente, podendo chegar a cerca de 35 milhões até 2024.
Ao olhar para esses dados fica clara a importância da arquitetura inclusiva, não apenas nos espaços públicos, mas nos privados também.
Arquitetura inclusiva no Brasil
A arquitetura inclusiva no Brasil teve inicio com o modernismo e as principais obras que representam esse tipo de arquitetura foram assinadas por arquitetos que marcaram o período, como Oscar Niemayer e Lúcio Costa.
Mas um dos primeiros e mais significativos exemplos da arquitetura inclusiva no Brasil é a Escola Municipal de Astrofísica, projetada pelo arquiteto Roberto José Goulart Tibau e inaugurada em 1961 dentro do Parque Ibirapuera, em SP.
Como funciona e como aplicar a arquitetura inclusiva?
Além da norma técnica vigente na legislação brasileira, a arquitetura inclusiva precisa considerar alguns outros fatores essenciais, como, por exemplo:
- O conforto dos usuários;
- A segurança;
- A autonomia e independência;
- Uso atual e futuro da construção;
- A sustentabilidade do projeto;
- A disposição e layout dos ambientes;
- A qualidade dos materiais utilizados na construção;
- O orçamento e investimento tanto a curto, quanto a longo prazo;
Imagine, por exemplo, um jovem casal que decide investir na construção da casa própria.
Eles já devem considerar as necessidades futuras, tanto no que diz respeito ao nascimento dos filhos, por exemplo, quanto a própria velhice.
Nesse sentido, a arquitetura inclusiva traz soluções capazes de acompanhar o ser humano em todas as fases da vida, sem a necessidade de reformas e adaptações.
Portanto, pensar a arquitetura inclusiva é projetar um futuro com mais qualidade de vida e bem estar.
O que considerar em um projeto de arquitetura inclusiva
Rampas
Falar em arquitetura inclusiva é praticamente sinônimo de falar em rampas. Isso porque essas estruturas de passagem servem a uma imensa variedade de casos e pessoas.
Gestantes, idosos, mães com crianças em carrinhos, obesos, deficientes físicos e pessoas com mobilidade reduzida, por exemplo, são alguns dos perfis que se beneficiam das rampas de acesso.
Para se adequar a norma técnica, as rampas precisam ter uma inclinação máxima de 8% em relação ao piso para garantir o uso com esforço mínimo, segurança e conforto.
A largura da rampa também é importante. Ela deve ter, no mínimo, 1,20 metro para garantir a passagem de andadores e cadeiras de rodas.
Também é obrigatório o uso de corrimão duplo, piso antiderrapante e patamares no inicio e no final da rampa.
Todas essas características de uma rampa acessível permitem que o usuário tenha autonomia, independência, segurança e conforto na utilização da estrutura o que, consequentemente, promove bem estar e autoestima.
Dimensões e áreas de circulação
A dimensão dos espaços também deve ser prioridade, já que ela pode limitar ou facilitar o acesso principalmente de pessoas com mobilidade reduzida.
O ideal é que seja possível realizar uma manobra com cadeira de rodas em 360º, ou seja, um giro completo em torno da própria cadeira. Isso garante a autonomia do usuário. No entanto, exige uma área livre de circulação maior.
Por isso, é sempre importante dimensionar o tamanho dos espaços levando em consideração essas necessidades.
A largura de portas e corredores é outro detalhe fundamental. Para que um cadeirante possa transitar tranquilamente de um ambiente para outro, o recomendado é que as portas e corredores tenham 0,90 cm (no caso das portas) e entre 1 e 1,20 metro (para corredores).
Uma forma de conquistar espaço livre para circulação é optando por uma quantidade reduzida de mobília, sendo que algumas podem, inclusive, ser substituídas por versões aéreas, como é o caso de armários, por exemplo.
Iluminação
Um bom projeto de iluminação é sempre bem vindo em construções de todo o tipo. Mas quando se fala em arquitetura inclusiva, a iluminação ganha uma importância ainda maior.
Isso porque ela precisa ser pensada nas necessidades de cada usuário, de modo que a residência ou espaço público se torne ainda mais confortável e seguro.
Para idosos e pessoas com dificuldades de visão, por exemplo, o ideal é contar com uma iluminação ampla e uniforme, evitando ao máximo possível a criação de sombras no ambiente.
O uso de cores em contraste também auxilia pessoas com problemas de visão. Já as áreas destinadas a execução de tarefas devem receber uma atenção ainda mais especial.
Para isso, recomenda-se o uso de luminárias diretas sobre balcões, mesas e bancadas, por exemplo.
Durante a noite, investir em uma iluminação inteligente é outro recurso muito bem visto na arquitetura inclusiva.
Isso porque além de ser uma opção sustentável, já que as luzes se acendem apenas na presença de pessoas, a iluminação inteligente evita que pessoas idosas e com mobilidade reduzida sofram acidentes em trajetos simples, como do quarto ao banheiro, por exemplo.
Outro ponto importante para se atentar na hora de planejar a iluminação da arquitetura inclusiva são as escadas, rampas, degraus e outros locais de passagem, seja em residências, seja em espaços públicos.
Instalar luzes que ajudem a conduzir o caminho de pessoas com necessidades especiais garante mais conforto, autonomia e segurança.
Revestimentos
Outro principio básico dentro da arquitetura inclusiva é o uso de revestimentos seguros, considerados antiderrapantes.
Esse tipo de revestimento garante que pessoas que usam cadeiras de rodas ou que tenham mobilidade reduzida não sofram acidentes.
Mas outros grupos e perfis de pessoas também se beneficiam desse tipo de revestimento, como é o caso dos idosos, gestantes e crianças pequenas. Uma queda ou escorregão em qualquer um desses casos pode ser muito perigoso.
Já para pessoas que possuem limitação visual, seja pela idade ou por algum motivo de saúde, os pisos sinalizadores são a melhor opção.
Esse tipo de piso, conhecido também como podotátil, possui superfície emborrachada e em alto relevo que auxilia na condução do caminho e alerta para possíveis obstáculos.
Outra recomendação fundamental no que diz respeito ao piso é a regularidade e a nivelação da superfície. Todo tipo de degrau, por menor que seja, deve ser eliminado.
Mobília
A mobília integra qualquer projeto de interiores e é fundamental dentro da vida moderna.
Mas como pensar o mobiliário dentro de uma arquitetura inclusiva? Para começar, elimine quinas e todo tipo de ponta que possa causar acidentes em pessoas com mobilidade reduzida ou mesmo em crianças.
A altura da mobília deve ser planejada de acordo com o perfil do público que fará uso do espaço e precisa atender as regras e exigências da norma NBR 9050/2004.
Caso o projeto inclua o uso de tapetes, eles devem ser colados ao piso ou possuir fundo emborrachado para evitar que se enrosquem em uma cadeira de rodas ou provoque acidentes, como tombos e escorregões.
As portas de armários devem ser preferencialmente de correr, facilitando o uso de quem está na cadeira de rodas e também ajudando a aumentar a área de circulação do ambiente.
Tecnologia e automação
Hoje em dia, uma casa inteligente e automática não é sinônimo de luxo, mas de necessidade.
A tecnologia empregada dentro da arquitetura inclusiva garante conforto, segurança e ainda mais autonomia aos usuários.
Um bom exemplo de como a automação pode auxiliar o dia a dia de um espaço inclusivo é com o uso, por exemplo, de lâmpadas inteligentes que acendem sozinhas, maçanetas, torneiras e botões de fácil acionamento, portas e janelas que abrem em apenas um toque e os sistemas de comando por voz.
O mais importante de tudo é que a arquitetura inclusiva seja capaz de respeitar cada ser humano em suas individualidades, promovendo, com isso, um mundo mais igualitário.