Tradição, identidade cultural e sustentabilidade são os pilares da arquitetura vernacular.
Presente nos quatro cantos do planeta, esse tipo de arquitetura está no centro das atenções de arquitetos e engenheiros, especialmente porque ela se caracteriza como uma das opções de construção mais sustentáveis que existem.
E apesar dos holofotes que esse tipo de construção tem recebido, a arquitetura vernacular é, em sua essência, muito simples.
Aqui no Brasil, por exemplo, estamos cercados de construções desse tipo, desde as ocas indígenas até as casas de pau a pique.
Mas o que é arquitetura vernacular?
A arquitetura vernacular se baseia no uso de materiais naturais e técnicas construtivas tradicionais que variam de acordo com cada região.
Esse tipo de arquitetura utiliza-se de materiais locais, encontrados com facilidade e em abundância, além de técnicas de construção passadas de geração em geração, sem a necessidade de um arquiteto ou engenheiro na obra.
A arquitetura vernacular acompanha o homem desde que ele deixou de ser nômade para se tornar agricultor, estabelecendo-se definitivamente pela primeira vez.
Por isso, esse tipo de arquitetura acaba sendo também o reflexo de um povo e sua história, diretamente relacionado com a cultura do local e a necessidade dos seus habitantes.
Principais características da arquitetura vernacular
Casas adaptadas ao local
A arquitetura vernacular pode ser reconhecida pela funcionalidade das construções, uma vez que as casas ou edifícios são projetados para trazer conforto e bem estar aos moradores.
Em razão disso, as casas de arquitetura vernacular possuem características parecidas de acordo com a região em que estão localizadas.
Em locais de clima quente, por exemplo, é comum que as casas apresentem pátios internos, cores claras, telhados planos, ventilação cruzada e edificações afastadas uma das outras.
Ao contrário das casas de clima frio, onde as casas de arquitetura vernacular são mais próximas uma das outras, o telhado é inclinado, a estrutura é elevada em relação ao chão e as fachadas possuem aberturas amplas para entrada da luz do sol.
Isso torna a arquitetura vernacular não apenas esteticamente interessantes, mas extremamente funcionais, oferecendo o máximo de conforto térmico.
Contudo, é possível notar outras características que demonstram essa adaptação, como as casas de palafita, construídas sobre as águas, devidamente pensadas para não sofrer com a cheia dos rios.
Uso de materiais naturais
Madeira, bambu, palha e até a própria terra são alguns dos materiais usados na arquitetura vernacular.
A prioridade é buscar aquilo que é mais abundante na região e, assim, desenvolver técnicas adequadas para esse tipo de material.
Um bom exemplo disso é o bambu, material abundante em países orientais e, por isso mesmo, amplamente utilizado na construção de casas.
História e socialização
A arquitetura vernacular não é apenas uma forma de construir moradias. Esse tipo de arquitetura possui um profundo peso histórico, indo de encontro também com o coletivo e a socialização.
Isso porque as casas da arquitetura vernacular não são construídas sozinhas. É preciso um esforço comunitário, coletivo, tanto no que diz respeito ao emprego correto das técnicas, quanto ao uso da força bruta.
O resultado é a identidade cultural que se forma em torno da arquitetura vernacular.
Identidade cultural
Por falar em identidade cultural, a arquitetura vernacular é a representação da tradição de um povo, seus costumes, modo de vida e afirmação cultural.
Não é a toa que as casas vernaculares podem ser facilmente associadas a um determinado povo ou país só de olhar para ela.
Sustentabilidade
Impossível falar de arquitetura vernacular nos dias de hoje sem citar a sustentabilidade. O uso de materiais regionais e técnicas simplificadas de construção fazem com que inúmeros recursos naturais sejam poupados.
A começar, por exemplo, pela facilidade de obter os materiais para construção no próprio terreno, eliminando a necessidade logística e de transporte altamente poluentes.
As técnicas empregadas para trazer conforto térmico de modo natural também são sustentáveis, uma vez que dispensam o uso de aparelhos elétricos, como ar condicionado ou aquecedores.
Outro ponto positivo que a arquitetura vernacular ganha com a sustentabilidade é a baixa geração de resíduos, algo muito comum nas construções de alvenaria tradicionais.
E, mesmo que algum resíduo ou sobra seja gerado, por se tratar de materiais naturais, basta retorná-los ao lugar de origem.
Arquitetura vernacular brasileira
O Brasil é uma rica fonte de exemplos de arquitetura vernacular. O arquiteto Lúcio Costa foi um dos principais nomes desse tipo de arquitetura no Brasil, resgatando técnicas tradicionais, como a taipa de pilão e o pau a pique.
Confira a seguir alguns exemplos de arquitetura vernacular em terras brasileiras:
Ocas indígenas
As ocas indígenas são um clássico exemplo de arquitetura vernacular no Brasil.
Construídas com uma estrutura de madeira e revestidas com camadas de folhas de palmeira, as ocas protegem seus moradores contra a chuva, frequente na região.
Sem divisões internas, as ocas podem abrigar mais de uma família e suas dimensões impressionam. Algumas chegam a medir cerca de 30 metros de comprimento.
O processo construtivo é dividido entre todos da aldeia a partir do uso de recursos naturais abundantes na floresta.
Palafitas
Outro marco da arquitetura vernacular brasileira são as casas de palafitas, muito comuns na beira de rios da Amazônia e em cidades litorâneas, margeando mangues.
As palafitas são construções suspensas sobre pilares de madeira, de modo que os moradores fiquem protegidos das cheias dos rios e, assim, não sofram com alagamentos e enchentes.
Esse tipo de moradia caracteriza o povo, a cultura e o modo de vida ribeirinho.
Pau a pique
As casas de pau a pique são a melhor representação do povo interiorano brasileiro.
Esse tipo de construção é muito comum nas casas do interior e do sertão brasileiro. O processo de construção é simples, envolvendo apenas o uso de madeira e barro.
As estruturas são firmadas no solo com vigas de madeira e o preenchimento das paredes é feito com uma massa de barro entrelaçada com cipó.
Ao final, a casa de pau a pique pode receber acabamento em suas paredes ou ficar exposta, como é de costume observar nas casas mais antigas.
Atualmente a técnica do pau a pique tem sido retomada com frequência nos projetos modernos, graças a sustentabilidade envolvida no processo.
Taipa de pilão
A casa de taipa de pilão é outra velha conhecida no interior do país e muito comum nas casas mais antigas das grandes cidades.
Esse tipo de construção ganhou força na época colonial, justamente por ser fácil, rápida e barata.
A casa de taipa de pilão é, basicamente, feita com terra, cal e cascalho. Os materiais são colocados em uma forma e depois são socados no pilão até ganharem consistência, firmeza e resistência.
Assim como as casas de pau a pique, as casas de taipa de pilão também estão no centro das atenções dos projetos arquitetônicos sustentáveis.
Barraco
Os barracos são um tipo de arquitetura vernacular que revelam a discrepância e as desigualdades sociais do Brasil ao mesmo tempo em que se consolidam como forma de identidade cultural e representação urbanística das grandes cidades.
É muito fácil reconhecer uma paisagem brasileira só de olhar as fileiras intermináveis de barracos, construídos em madeira ou qualquer outro material disponível no momento.
Quilombo
Os quilombos são a moradia do povo quilombola. Ou seja, mais do que uma casa, esse tipo de construção carrega a história e a cultura de seus habitantes.
Construídos em madeira e cobertura vegetal, os quilombos são um tipo de casa inspirada nas aldeias africanas e que eram construídos para abrigar negros fugidos das senzalas.
Em algumas regiões, os quilombos também são um tipo de moradia comum aos descendentes indígenas que, assim como os negros, buscavam abrigo e refúgio de seus senhores.
Exemplos de arquitetura vernacular no mundo
É claro que os exemplos de arquitetura vernacular não se limitam ao Brasil. No mundo inteiro esse tipo de construção pode ser vista e apreciada.
O mais interessante de tudo é que junto com os inúmeros tipos de moradia é possível também descobrir mais sobre o povo que habita cada local, seus costumes e cultura. Dá só uma olhada:
Iglus
Os iglus são a morada dos povos esquimós que vivem nas regiões mais geladas do planeta. Construídos com blocos de gelo, os iglus se assemelham a uma toca.
Trulli
Super charmoso, o trulli é um tipo de construção comum na Itália. Feito em pedra calcária sem o uso de argamassa, esse modelo de arquitetura vernacular é um dos mais antigos da história.
Obos
Os obos são é um exemplo de arquitetura vernacular africano típico de Camarões.
Em formato cônico, essas casas oferecem abrigo contra o forte calor graças a sua cúpula alta que captura o ar quente e o joga para fora.
Casas de telhado verde
Na Irlanda, a arquitetura vernacular mais característica é a casa de telhado verde incrustada nas pedras.
O curioso é que esse tipo de casa parece estar completamente inserida no meio, até mesmo camuflada. E existe uma razão para isso. As baixas temperaturas da região favorecem esse tipo de arquitetura.
Palheiros
Em Portugal, as casas triangulares com cobertura de palha são as mais tradicionais. Elas protegem contra o frio e mantem a temperatura interna sempre agradável.
Ao observar todos esses exemplos de arquitetura vernacular fica fácil entender que ela se torna cada vez mais uma ponte que liga o passado e o futuro, as tradições e a modernidade, o conforto e a sustentabilidade.