O conceito de bioarquitetura pode parecer novo, mas na verdade não é bem assim.
A bioarquitetura é um compilado de técnicas muito antigas de construção.
E você já parou para se perguntar porque a bioarquitetura faz esse resgate?
Qual o objetivo da bioarquitetura e como ela pode contribuir para um planeta mais sustentável?
O assunto é amplo e, por isso mesmo, trouxemos a seguir um pequeno guia para ajudar a responder essas e outras perguntas. Acompanhe com a gente.
O que é bioarquitetura?
A bioarquitetura é um conceito de arquitetura que tem como principal objetivo a integração e a preservação do meio ambiente.
Nesse tipo de arquitetura, a natureza é protagonista, assim como a relação do homem com ela.
Tudo na bioarquitetura é pensado para reduzir ao máximo possível o impacto ambiental.
Sempre muito inspirada nos modos de construção tradicionais dos povos que habitavam (e ainda habitam) diversas regiões do mundo, a bioarquitetura também acaba sendo uma maneira de preservar a cultura e a história de cada local.
Por isso, é muito comum que as bioconstruções sejam estética e estruturalmente diferentes dependendo de onde estão localizadas.
Em razão disso, a bioarquitetura pode ser encarada também de um ponto de vista que vai muito além de uma simples construção. Ela é viva, dinâmica e cheia de histórias para contar.
Quais as principais características da bioarquitetura?
Design orgânico
Quem olha logo reconhece uma construção baseada nos princípios da bioarquitetura.
As formas curvas e orgânicas estão sempre presentes inspiradas, é claro, na própria natureza.
Nesse tipo de arquitetura, o design da construção se confunde com o próprio meio, com um certo mimetismo que inclui, não apenas as formas, mas também as cores e texturas.
Aproveitamento integral da luz e da ventilação
Outra grande característica da bioarquitetura é o aproveitamento da luz e da ventilação, práticas essas, inclusive, que também são comuns no conceito de arquitetura moderna.
Existem pelo menos dois bons motivos para essa característica. O primeiro deles é a economia e o consumo consciente dos recursos, sobretudo, a energia elétrica.
Outra razão por trás disso é o conforto e o bem estar que tanto a iluminação natural, quanto a ventilação proporcionam.
A luz natural é importantíssima para regular o ciclo natural do organismo humano, estimulando a produção correta de hormônios, como a melatonina e o cortisol.
Além disso, a luz natural evita o desperdício de energia elétrica com lâmpadas, enquanto a ventilação elimina a necessidade de aparelhos de ar condicionado.
Captação de água da chuva
O que seria de uma casa sustentável sem um sistema de captação de água de chuva?
Na bioarquitetura tudo pode e deve ser reaproveitado, incluindo a água que cai do céu.
Nesse modelo de construção, a água é recolhida em cisternas de onde é aproveitada para diferentes locais da casa, desde a horta, a área de serviço até os banheiros para uso na descarga.
Reaproveitamento de águas cinzas
Como você já sabe, na bioarquitetura nada se perde. E aqui estamos falando das águas cinzas.
Esse nome, estranho em um primeiro momento, faz referência a água que foi utilizada no banho, na pia da cozinha e na máquina de lavar, por exemplo.
As águas cinzas, impróprias para consumo, podem ser reaproveitadas para o uso doméstico.
Para isso, é preciso contar com um sistema de filtragem e tratamento da água.
Esse filtro elimina primeiramente a gordura, depois faz a filtragem biológica, eliminando microorganismos nocivos.
Depois de tratada, a água cinza pode retornar ao sistema de abastecimento da casa, sendo usada, sobretudo, em descargas.
Fora isso, a água cinza ainda pode ser utilizada para regar plantas ou para abastecer lagos naturais. Nesse caso, fica ainda mais interessante utilizar plantas aquáticas que realizam um trabalho de limpeza da água mais profundo e eficiente.
Você pode até criar peixinhos ali.
Horta orgânica
A bioarquitetura também está intimamente relacionada com as hortas orgânicas e o sistema de agricultura, conhecido como permacultura.
Isso porque a bioarquitetura é holística, ou seja, ela não acaba na construção, mas envolve tudo e todos que habitam o espaço, incluindo até mesmo a alimentação da família.
Tudo para garantir que o impacto ambiental das atividades humanas seja cada vez maior.
Com uma horta orgânica é possível suprir uma boa parte da demanda por alimentos, desde hortaliças de todos os tipos até frutas e legumes.
Essa relação mais próxima e intima com a natureza acaba por beneficiar não apenas quem mora no local, mas toda a sociedade que é vitima dos grandes produtores agrícolas e da logística nada sustentável da distribuição de alimentos.
Quanto mais gente plantando o próprio alimento, mais a natureza se regenera e se beneficia.
Materiais locais
Esquece a ideia de usar um mármore vindo lá da Grécia (a não ser que você more na ilha).
Na bioarquitetura, a casa será construída com base nos materiais mais abundantes da região.
Isso significa que se você mora em um local cheio de bambu, a probabilidade da casa ser construída com esse material é enorme.
E porque? A bioarquitetura valoriza a prática de técnicas regionais, mas sobretudo o uso de matérias primas abundantes localmente.
Isso para diminuir os custos, mas especialmente para reduzir o impacto de transporte envolvido no uso dos materiais de construção.
Qualquer material que precisa ser transportado impacta negativamente no meio ambiente, especialmente pela emissão de carbono na atmosfera provocado pelos veículos de carga.
Redução de resíduos
O setor da construção civil é o que mais causa prejuízos ao meio ambiente. Estima-se que todos os dias cerca de 122 mil toneladas de resíduos são descartados somente no Brasil.
Considerando que não existe o tal do “jogar fora” todo esse lixo continua existindo em algum lugar do planeta causando danos ambientais de diferentes formas.
Isso sem falar na emissão de dióxido de carbono. 38% de todos os gases do efeito estufa do mundo são emitidos apenas pela construção civil.
Mas não precisa ser assim. Ao menos é o que pretende a bioarquitetura.
Com esse tipo de arquitetura, são gerados pouquíssimos resíduos e o que é produzido pode ser reaproveitado de outras maneiras, seja na própria obra ou em outros espaços.
Quais as vantagens da bioarquitetura?
Preservação ambiental
Uma das principais vantagens da bioarquitetura, sem dúvida, é a preservação ambiental proporcionada por ela.
Com a bioarquitetura, o impacto causado pelo homem reduz significativamente e não se restringe apenas a construção em si, mas na moradia posterior, uma vez que a casa continua colaborando com a preservação dos recursos ao reaproveitar água da chuva ou produzir energia elétrica por meio de placas fotovoltaicas.
Resgate histórico e cultural
Outra coisa linda de ver na bioarquitetura é a valorização da cultura e do regionalismo.
As casas construídas dentro deste conceito assimilam muito dessas características culturais, tanto na forma, quanto na estrutura.
É possível perceber esses traços históricos culturais em cada projeto, ficando ainda mais evidente quando comparado a diversos locais do mundo.
Uma casa biosustentável na África possui características próprias e muito diferentes de uma biocasa da China, por exemplo.
Economia de recursos
A bioarquitetura também é vantajosa do ponto de vista financeiro. Esse tipo de construção, apesar de custar um pouco mais caro de inicio, cerca de 5% a mais do que uma construção convencional, acaba se revelando a longo prazo muito mais econômica.
Primeiro pelo reaproveitamento dos recursos naturais que pesam menos no bolso, como é o caso da energia elétrica.
Outra razão é a baixa manutenção desse tipo de residência, especialmente quando comparada a construções tradicionais.
Materiais e técnicas empregadas na bioarquitetura
A bioarquitetura é uma junção de diferentes técnicas e materiais. Elas mudam muito de lugar para lugar. Aqui no Brasil, entretanto, as mais populares são as seguintes:
Taipa
Existem dois tipos de técnicas construtivas baseados na taipa, a taipa de pilão e a taipa de mão, conhecida também como pau a pique.
Ambas são muito populares no Brasil, a diferença entre elas é que a taipa de mão consiste em formar vãos quadrados na parede para serem preenchidos com galhos e bambus.
Já a taipa de pilão emprega terra socada em um pilão (daí o nome) dentro de uma forma de madeira, onde posteriormente será usada como parede da casa.
Adobe
A técnica do adobe é muito popular na bioconstrução. Esse método construtivo baseia-se no uso de tijolos de terra crua e palha moldados naturalmente e secos ao sol.
Os tijolos não precisam ser queimados no forno, o que contribui com a redução da emissão de gases na atmosfera.
Super adobe
Outra técnica muito conhecida da bioconstrução é o super adobe. Nesse método, a terra é prensada e comprimida dentro de sacos formando “blocos” grandes para criação de paredes e coberturas.
As casas de super adobe geralmente trazem um formato curvo e arredondado.
Tijolo ecológico
O tijolo ecológico é muito similar ao adobe, a diferença é que os tijolos ecológicos levam na composição terra e cimento, ao invés da palha, como acontece no segundo.
São ecológicos porque também dispensam a queima ao secarem naturalmente.
Telhado verde
Falando um pouco agora de tipos de estrutura, na bioconstrução uma das que mais se destacam é o telhado verde.
Esse tipo de telhado proporciona um grande conforto térmico dentro da residência, ajudando a dispensar o uso de aparelhos como ar condicionado.
Além de contribuir com o micro clima local, o telhado verde ainda é vantajoso para quem tem pouco espaço e mesmo assim pretende cultivar uma horta.
Isso porque o telhado pode ser usado para o plantio de pequenas espécies de hortaliças, ervas e temperos.
Bambu
O bambu é outro elemento muito popular nas bioconstruções. Resistente e durável, o bambu também se destaca pelo seu rápido crescimento e baixíssimo impacto ambiental.
Com ele é possível criar paredes, estrutura de telhado, piso e até a mobília da casa.
A bioarquitetura não é apenas um método construtivo, mas uma realidade necessária para o futuro do planeta. Então, seja você arquiteto ou não, apoie essa ideia!