Todos os dias, a construção civil brasileira gera em torno de 122 toneladas de entulho, segundo dados da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).
Mais da metade de todo esse entulho acaba indo parar em aterros sanitários. Ou seja, o descarte de entulho de obra ainda não é feito de modo responsável e consciente por aqui.
E quem paga essa conta? Todo mundo! Afinal, o descarte irregular de entulho de obra é prejudicial ao meio ambiente e a saúde humana.
Por sorte, todo cidadão pode vistoriar, fiscalizar, denunciar e colaborar para a destinação correta do entulho.
Continue acompanhando o post para saber mais e assim também fazer a sua parte:
O que é considerado entulho de obra
O entulho de obra nada mais é do que o resíduo gerado em construções, reformas, reparos e demolições.
De modo simplificado, o entulho é o lixo da construção civil. Só que um tipo de lixo diferente, já que ele não pode ser descartado de modo convencional pelo seu alto grau de toxicidade.
Dessa forma, considera-se entulho toda sobra de material e dejetos que não podem ser reaproveitados, como é o caso de:
- Tijolos e blocos quebrados ou sem condição de uso;
- Restos de fios, arames e conduites;
- Sobras de canos;
- Latas de tinta, verniz, solventes e outros produtos químicos;
- Pedaços de cerâmica e revestimentos de todos os tipos;
- Vidros;
- Embalagens e caixas de papelão;
- Isopor;
- Embalagens plásticas;
- Restos de gesso e drywall;
- Telhas quebradas e / ou que não podem ser reutilizadas;
- Madeiras em geral;
- Argamassa e restos de cimento;
- Metais em geral;
- Louças sanitárias;
Descarte de entulho de obra: o que a legislação diz sobre o assunto
Para evitar o descarte irregular do entulho de obra, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) criou a Resolução 307/2002.
Essa resolução estabelece, entre outras coisas, as diretrizes e critérios para descarte de materiais sólidos, incluindo os da construção civil.
De acordo com a resolução, todos os envolvidos no processo de uma construção possuem responsabilidade direta sobre o lixo gerado, incluindo engenheiros, arquitetos, transportas de resíduos (as famosas empresas de caçamba), administradores públicos municipais e, é claro, os cidadãos comuns.
A resolução estabelece diferentes tipos de classes de entulho e para cada uma delas existe um descarte correto a ser feito.
Caso haja descumprimento dessas diretrizes, tanto o responsável legal pela obra (engenheiro), quanto o proprietário do imóvel podem ser acionados judicialmente sob risco de multa e embargos.
O que fazer com entulho de obra
De acordo com a resolução do Conama, os entulhos de obras podem ser classificados em quatro categorias (A, B, C e D), onde cada uma delas possui suas próprias regras de descarte. Veja a seguir:
Entulho de obra Classe A
Os entulhos de obra considerados como classe A são aqueles que podem ser reutilizados, seja na mesma obra, em outra obra, por meio de doação ou até venda.
Entram nessa categoria sobras de blocos e tijolos que ainda estão em condições de uso, restos de cimento, peças cerâmicas em bom estado, sobras de tinta, entre outros.
Caso o proprietário ou responsável pela obra não deseje reutilizar esses materiais, é possível encaminhá-lo a entidades assistenciais que fazem o recolhimento desse tipo de material ou, ainda, oferecer para venda a preços inferiores aos praticados normalmente.
Entulho de obra Classe B
Os entulhos de obra do tipo classe B são aqueles que não podem ser reaproveitados em sua forma e função original, mas que podem ser reciclados.
É o caso, por exemplo, de materiais como vidro, plástico, papelão e metais. Esse tipo de material deve ser destinado a empresas de reciclagem ou cooperativas para o correto reaproveitamento.
Entulho de obra Classe C
O entulho de obra classe C é aquele que, infelizmente, não pode ser recuperado por meio de reciclagem, nem mesmo ser reutilizado em outras obras. Um típico exemplo é o isopor.
Por isso, é sempre aconselhável evitar materiais que ao final do processo se enquadram nessa categoria.
Entulho de obra Classe D
Os entulhos de obra classe D são os que necessitam de maior atenção na hora de fazer o descarte. Isso porque esse tipo de entulho é considerado tóxico e perigoso, tanto para a saúde humana, quanto para o meio ambiente.
Caso esse tipo de entulho seja descartado irregularmente em terrenos baldios ou beira de rios e córregos, por exemplo, ele pode contaminar a água e acarretar em diversos prejuízos ambientais.
Entram nessa classe de entulho materiais como restos de tinta, vernizes e solventes, além de lâmpadas fabricadas com mercúrio e telhas de amianto.
O descarte desse tipo de entulho deve ser realizado por empresas especializadas com capacidade para destinar e tratar adequadamente esse material.
Entre em contato com a prefeitura da sua cidade para saber quais as empresas credenciadas para esse tipo de trabalho.
Reciclagem de entulho de obra
Invista no upcycling
Upcycling é um termo que está muito em alta nos últimos tempos e pode ser definido, basicamente, como uma nova oportunidade para materiais que já perderam a vida útil.
Esse movimento em prol da sustentabilidade é muito comum no mundo da moda, mas também pode ser aplicado na construção e no design de interiores.
Uma das principais características do upcycling é que o reaproveitamento não retira as características originais de um material, apenas oferece a ele uma nova chance de existir.
É o caso, por exemplo, de peças cerâmicas quebradas que podem se transformar em um lindo mosaico, por exemplo.
Ou ainda, uma madeira que foi usada como estrutura para vigas e colunas e, que, agora, pode virar um banco.
Restos de canos, por sua vez, podem se transformar em luminárias modernas.
Quer mais um exemplo? Se você virar os blocos de cabeça para cima, eles viram vasos. E sabe a lata de tinta? Também dá pra fazer um vaso com ela.
Existem inúmeras formas de reaproveitar entulhos de obras, basta ter um pouco de criatividade e se permitir pensar um pouco fora da caixinha.
Recicle sempre
A reciclagem por outro lado permite que os materiais sejam transformados mecânica e quimicamente, podendo ou não perder as características originais.
Para a reciclagem é preciso contar com a ajuda de empresas especializadas no tratamento desse tipo de material, como é o caso das cooperativas.
Um bom exemplo de entulho de obra que volta a existir remodelado é o bloco de cerâmica, conhecido também como tijolo baiano. Esse tipo de bloco é moído, prensado e compactado para virar novos blocos, com a mesma resistência e qualidade.
Faça doações
Por fim, uma ótima maneira de garantir o aproveitamento total de tudo o que saiu da sua obra é fazendo doações.
O que para você não serve mais pode ser tudo o que outra pessoa precisa para concluir a própria casa.
Restos de cimento, areia, pedra, canos, tijolos, telhas, entre outros materiais em bom estado e em condições de uso podem ser reaproveitados em outras obras.
Busque por entidades assistenciais que fazem esse intermédio entre quem doa e quem precisa de doação.
Como evitar o desperdício e gerar menos entulho
Melhor do que reaproveitar ou reciclar é evitar a geração de entulho. E nos temos algumas dicas que são uteis tanto para o meio ambiente, quanto para o seu bolso, já que vão te fazer economizar um bom dinheiro. Dá só uma olhada:
Compre materiais de qualidade
Fuja do barato que sai caro. Ao investir em produtos de qualidade duvidosa, a tendência é que você precise trocá-lo em pouco tempo e, com isso, o entulho acaba sendo inevitável.
Isso pode acontecer com todo tipo de material de construção e acabamento, indo desde tubulações de água e esgoto até pisos e revestimentos cerâmicos.
Faça cálculos com a máxima precisão
Hoje em dia é possível calcular com muita precisão a quantidade de material necessária para realização de cada parte de uma obra.
Existem diversos tipos de calculadora disponíveis na internet que te ajudam a saber, por exemplo, o número de blocos ou a quantidade de tinta que será necessária para a pintura de um muro.
Por isso, não caia na ideia de sair comprando material baseado no achismo. Outra tendência comum é acabar comprando mais material do que o necessário com medo que falte.
Respire fundo nessa hora. Se faltar, basta voltar a loja de material de construção e comprar a quantidade que necessita.
Acredite, essa simples atitude faz bem para o meio ambiente e para o seu bolso.
Invista em soluções alternativas
Essa dica é especialmente válida para quem está reformando. Ao invés de comprar tudo novo, o que você acha de resignificar o que já tem?
Uma pintura nova pode se revelar mais econômica e sustentável do que a colocação de revestimentos.
Outra ideia é procurar por soluções alternativas que evitam gerar entulho, como é o caso da aplicação de piso sobre piso. Afinal, pra que tirar o piso antigo se é possível assentar um novo revestimento sobre ele?
Se essas soluções existem, vá de encontro a elas.
E quando não for possível, faça o descarte do entulho da obra com consciência e responsabilidade, ok?